No dia 03 de setembro, foi protocolado na Câmara Municipal de Ituverava requerimento que sugere a alteração de nomes de ruas da cidade que fazem referência a bandeirantes como Borba Gato, Antônio Raposo etc. O pedido veio de encontro ao passado e à trajetória que tais personalidades representam quando se trata de direitos dos negros e índios. O pedido foi entregue pelas mãos do jovem Luís Felipe Cordeiro dos Santos.
Justificativa
Acompanhe a justificativa do requerimento apresentado pelo jovem Luís Felipe Cordeiro dos Santos, enviada para a redação do Jornal O Progresso.
“Os bandeirantes eram descendentes de portugueses que viveram principalmente em São Paulo e atuaram na exploração de várias partes do Brasil, em busca de ouro e pedras preciosas, mas também na captura de escravos fugitivos, destruição de quilombos, aprisionamento de indígenas e mapeamento de territórios.
Quando se fala em bandeirantes, pensa-se logo em nomes como Antônio Raposo Tavares, Domingo Jorge Velho, Manuel Borba Gato, Fernão Dias Paes e Bartolomeu Bueno da Veiga (Anhanguera). Recebendo diversas honrarias no Estado, como nomes de rodovias, estátuas e nomes de ruas, parques e bairros em diversas cidades espalhadas pelo Estado.
Entre as muitas práticas que tinham, uma delas era realizar a captura e escravização de índios, muitas destas capturas sendo realizadas mediante tortura, resultando, inclusive, na morte de alguns deles. Foram eles os responsáveis, também, pela destruição do Quilombo dos Palmares, ação feita pelo bandeirante Domingo Jorge Velho. Manuel Borba Gato é reconhecido pelas expedições em busca das esmeraldas de Sabarabuçu, junto com o seu sogro Fernão Dias, entretanto, Borba Gato é um reconhecido escravagista, torturador e dizimador de escravos, sua estátua situada em Santo Amaro é alvo recorrente de protestos, pichações e até incêndios causados por grupos ativistas, e a pressão destes para a retirada da estátua é imensa.
Manter ruas com o nome de escravagistas, torturadores e dizimadores de índios e negros é indecoroso, grosseiro e de uma indelicadeza extrema, uma vez que, no cenário político brasileiro atual, o crescimento de grupos racistas e de extrema direita é notável, e estes mantêm nomes como os supracitados como exemplos de condutas e ações a serem seguidos. Não obstante, trata-se de falta de respeito com a população preta da cidade, uma vez que estes nomes foram responsáveis por diversas atrocidades contra os seus antepassados, que ofendem qualquer princípio dos direitos humanos existente.
A troca de nomes de ruas, parques, estradas e a demolição de monumentos que exaltam estes é de urgência. É fato inegável que contribuíram para a construção do país tal como hoje se encontra, no entanto, o dano que causaram à população preta e indígena é incalculável, esta parte da história deve ser explicitada em livros didáticos como resgate histórico da contribuição dessas populações, que são pilares da cultura e da nação brasileira”.
Nota da Redação
As mudanças de nomes de ruas sempre foram polêmicas e muito complicadas para os vereadores que são submetidos a este tipo de projeto. As vias reivindicadas já têm longos anos com as denominações que ocorreram não por agora. Além de transtornos de localização e gastos aos moradores com documentação e ao Poder Público com troca de placas entre outros, a mensagem alcança seu objetivo, no que se refere às próximas denominações.
Aliás, já algum tempo, os logradouros públicos de Ituverava têm sido dedicado a cidadãos da própria cidade e que tiveram serviços prestados ao município, observando e reconhecendo o passado de cada homenageado. Portanto, que as denominações sigam o critério atual e não do passado, pois ainda há muitas pessoas da cidade que merecem ser perpetuadas por terem dedicado suas vidas ao município, em diversas áreas, e ainda não tiveram seus nomes lembrados em ruas ou outros lugares públicos. As denominações de lugares públicos pertencentes ao município são de competência exclusiva do Poder Legislativo Municipal.
Assim, o requerimento do jovem Luís Felipe reforça esta justa e correta forma de denominar os patrimônios municipais, que vem sendo adotada pelos atuais e pelos anteriores mais recentes membros do corpo Legislativo do município. As denominações do passado podem ter seus motivos em seus contextos históricos da época e, seguimos a forma atual no presente e futuro homenageando aqueles que realmente fizeram pelo município.