Monsenhor João Rulli

Vindo da Itália, sua terra natal, chegava ao Brasil no ano de 1904, com a idade de 30 anos, o padre João Ruli. Nomeado coadjutor da paróquia de Araraquara, ali o jovem sacerdote permaneceu pelo espaço de dois anos, aprendendo a língua e entrosando-se nos costumes dos brasileiros.

Monsenhor João Ruli nasceu perto do mar, na pequena cidade de Bovalino Superior, província de Reggio, na Calábra, no dia 11 de abril de 1874.

Logo que aprendeu as primeiras letras partiu ele para a cidade de Gerace, na mesma província de Reggio, e cuja cidade em parte era arruinada em virtude do terremoto de 1783. Em Gerace o futuro sacerdote permaneceu durante cerca de catorze anos, até ordenar-se com a idade de 23 anos e 8 meses. Nesse interim licenciou-se no Seminário de Gerace; cursou pedagogia, cuja matéria lecionou na Escola Normal “Vitório Emanuel” da mesma cidade; fez os cursos de filosofia, teologia e direito canônico naquele seminário. Pouco antes de vir para o Brasil foi capelão do colégio dos surdo-mudos de Nápoles.

No ano de 1906 o presbítero foi transferido da paróquia de Araraquara para a de Pindamonhangaba. Pouco depois foi nomeado vigário da paróquia de Cascavel, em seguida da de Vargem Grande, em cuja cidade sua passagem ficou indelével pois ali construiu uma magnifica igreja. Foi vigário substituto na paróquia de São José do Rio Pardo, passando-se depois para as de Vila Bonfim e Brodosqui. Nesta construiu ele uma suntuosa matriz. Exercendo, posteriormente, o vicariato em São Joaquim, introduziu na igreja dessa cidade grandes melhoramentos.

Finalmente sua reverendíssima viu-se nomeado vigário da paróquia de Ituverava, em substituição ao cônego Marcos Santiago, tendo aqui chegado no dia 1° de março de 1925, com a idade de 51 anos, e com cerca de 27 de vida sacerdotal.

Logo no ano seguinte ao de sua chegada aqui o nosso vigário iniciava um trabalho titânico, qual seja o da construção dessa obra soberba que é a nossa matriz. Trabalhou com tanto afinco, enfrentando as vezes circunstâncias verdadeiramente hostis, que três anos depois, isto é, em 1929, o templo magnífico estava construído, só faltando então uma parte das pinturas, que foram feitas mais tarde por hábeis artistas. As decorações da capela-mór e da nave de nossa igreja constituem extraordinárias obras de arte, evidenciando o carinho de zeloso vigário que as promoveu.

Após uma permanência de onze anos entre nós, o nosso pároco, que se desvelara no exercício de sua sagrada profissão, trabalhando arduamente, foi buscar um pouco de repouso e ao mesmo tempo matar saudades dos seus em sua terra natal. De volta da Itália, poucos meses depois, foi alvo, por parte dos ituveravenses, de uma recepção que constituiu verdadeira apoteose.

Poucos meses antes de ser investido da dignidade de monsenhor, sua reverendíssima comemorou entre nós a passagem do seu jubileu sacerdotal, tendo recebido por essa ocasião as mais variadas e inequívocas demonstrações de estima, carinho e gratidão, não só dos seus paroquianos, como também do mundo eclesiástico, onde monsenhor goza de muito merecido prestígio.

O dia jubilar de Monsenhor Ruli ocorreu-se a 17 de dezembro de 1947, e as festividades que o assinalaram foram realizadas aqui no dia 6 do corrente ano. A solene missa pontifical celebrada naquele dia, na igreja matriz de Ituverava, por d. Manuel da Silveira D’Elboux, bispo de Ribeirão Preto, foi uma cerimônia de extraordinária beleza e extremamente tocante aos corações dos ituveravenses que, comovidos, viam no altar-mór, humilde e genuflexo, o seu encanecido pastor, o qual, talvez, assistisse naquele momento desfilar na sua memória todo um mundo de suaves recordações, sentindo vibrar.

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