A História da Rua Voluntários de Ituverava

   A RUA — É a rua do cemitério. Começa no canto da Praça 10 de Março, junto aos prédios da antiga Farmácia Viliar, ultimamente ocupada pela Prefeitura Municipal, que ali tinha a sua séde (Hoje Junta Militar, SAAE, etc). Mede pouco mais de 430 metros. Pavimentada a princípios e depois asfaltada, abre-se a partir do terceiro quarteirão, terminando à frente do portão da Necrópole Municipal três vezes mais larga do que no início.
   À sua margem está o Centro Espírita Luz Amor e Caridade, que mantém um albergue noturno. Antigos moradores: o Major Domingos Ribeiro dos Santos (casa da esquina da rua Major Vitor Verando da Fonseca), dona Marianinha Carneiro, inspetora de disciplinas do Grupo Escolar Fabiano Alves de Freitas e figura muito popular e querida ne cidade. É bonita e alegre, contando com bons prédios residenciais.
   O PATRONO — A 22 de Fevereiro de 1.948, “X” um colaborador de “A Cidade de Ituverava” escrevia uma brilhante crônica intitulada “Rua Voluntários de Ituverava”, preconizando fôsse dado a uma das principais vias públicas da cidade este nome, com as seguintes palavras:
   “1932”
   A simples enunciação desta data, somos assaltados por um imenso mundo de recordações. E aos nossos ouvidos ressoam os brados veementes dos patriotas em luta com teus próprios irmãos, cujo sangue moço e generoso regrou o solo pátrio afim de que nele, estudante de vida, medrasse a árvore da “Liberdade; vegetal soberbo e vigoroso, carregado de frutos capitosos que atiçaram sempre a gula dos povos civilizados. Ituverava, na epopéia memorável, foi pródiga em voluntários. Do conforto dos seus lares, dos braços de suas esposas; do aconchego morno dos desvelos maternos partiram várias dezenas de ituveravenses entusiastas que iam empunhar os armas, ne defesa valente dos verdadeiros ideais democráticos.
   “É fácil imaginar-se o que e quanto sofreram os nossos rapazes.”
   Integrados no horror da chacina fratícida, muitos deles, verdadeiras crianças ainda, nunca haviam presenciado sequer o espetáculo da morte calma e pacífica, dentro de um calmo e pacífico leito. Lá, nos campos onde se lutava, é que eles fizeram o seu debute com a loba esfaimada.
   Durante toda a árdua campanha, com seu cortejo de privações duras, perigos e incertezas, quando o desespero atingia o clímax, insuflava-lhes novo alento e maiores energias. O simples pensamento da cidadezinha que ficara lá para traz e que seguia comovida os passos de seus heróis.
    Graças a Deus, não tivemos que lamentar a perda de nenhum deles. Todos voltaram. Alguns feridos, e todos calejados pela cruel experiência. Entretanto, a gratidão enorme que ficamos lhes devendo, não foi expressa até hoje de maneira a cristalizar, através dos tempos, aquele sentimento.
    A exemplo de numerosas cidades paulistas, precisamos perpetuar o nosso reconhecimento aos combatentes ituveravenses de 32. E o melhor meio de o fazermos, será darmos a uma das nossas principais ruas, o nome de Voluntários de Ituverava.
   “Isto é o que já devíamos ter feito há muito tempo.”
   Lá da capital, tal como o “X”, aquela providência, fazendo-o com o costumeiro brilhantismo em artigo, do qual extraímos os seguintes trechos:
    “A Data”
   As datas sofrem, também, do destino dos homens. Umas ganham notoriedade, conquistam admiradores, colhem ruídosos aplausos, emergem do calendário em letras de rubro relevo, deitam raízes na história.
   Filiam-se à categoria das que pertencer à posteridade. Outras surgem grandiosas, irradiam por algum tempo seu halo de glória, arrebatam os coevos, mas passem depressa…
   Na memória dos contemporâneos como Brasileiro apagado, coberto de cinzas…
   Outras nascem e passam incolores, anônimas, despercebidas … Abandonadas ou esquecidas, não suscitam, se relembradas, admiração entusiástica nem festivos louvores. A ingratidão do tempo e dos homens cria a ambiência que as amesquinha e reduz a vulgaridade das coisas comuns.
   E assim o 9 de Julho não passará em branca nuvem numa cidade que não ficou, em 1932, surda e indiferente ao clangor dos clarins que ressoaram nos quatro cantos do nosso território chamando ao serviço de guerra pela Constituição, homens e mulheres, moços e velhos.
   Não iremos alongar os olhos da memória até aquele período e evocar, em traços rápidos sequer, os acontecimentos turbilhonantes que sacudiram a alma coletiva em estos de entusiasmo e bravura. A matéria excederia os limites de um modesto artiguete sem pretensão maior que a de celebrar a data imperecível de 9 de Julho e festejar o aparecimento de mais um obreiro do progresso da terra natal.
   Os fatos que produziram o 9 de Julho são assaz conhecidos.
   Foi ele o resultado da fusão de sentimentos admiráveis, o desejo veemente pelo retorno do país ao regime Constitucional e a revolta da dignidade ferida.
   O Estado fora submetido à dura humilhação. De líder da Federação passara a terra ocupada, alvo de chacotas. Sobre a nossa fraqueza, silêncio e aparente conformismo faziam-se piadas atrozes pelo Brasil a fora… … Quando irrompeu a Revolução e os canhões troaram nos socavões do tunel, nos alcantis da Vila Queimada e nos campos de Bury e o Brasil estremecia surpreso e emocionado com o espírito de luta de nossa gente, houve uma retificação de juizos e atitudes.
   Terminada a revolução que tanto falara às nossas almas e tantos e incontáveis sacrifícios de vida é de bens custara. O 9 de Julho teve, nos primeiros anos, vibrantes comemorações. Ergueram-se monumentos aos heróis. As cidades enlutadas com a perda de seus filhos ergueram-lhes sugestivos mausoleus, praças, avenidas e ruas passaram a denominar-se 9 de Julho numa tocante homenagem à Revolução Constitucionalista.
   Decorridos pouco mais de cinco lustros, sente-se que a data excelsa vai caindo no olvido.
   Parece-nos que Ituverava é das rarissimas cidades que não tem uma rua, um beco que relembre aos vindouros a data magna do nosso idealismo. Nenhuma que homenageie os heróis daquela epopéia. Pedro de Toledo, Marcondes Salgado, Izidoro Lopes… e tantos outros. Entretanto, uma das ruas ostenta o nome de Getúlio Vargas…
   Aparece a “Tribuna de Ituverava” num dia glorioso nos fastos de nosso patriotismo.
    Nasce sob o signo de aurifulgente idealismo. (O tradicional Jornal Tribuna de Ituverava foi fundado no dia 9 de Julho de 1.949). Que nesse idealismo se inspire para servir a nossa terra. Ao lado da “Cidade de Ituverava” (Jornal que pertecia à familia França e teve diretores Humberto e Moacir, hoje nomes de escolas de Ituverava), a infatigável irmã mais velha, lute sem desfalecimentos pelo Bem, pela Justiça e pela Democracia.
   De longe acompanharemos a sua Caminhada com o mesmo entusiasmo com que hoje lhe mandamos as nossas saudações.
   Algum tempo depois — tal é o poder da imprensa — os administradores da época atenderam aos justos reclamos dos bons ituveravenses.

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