A fim de satisfazer a curiosidade de muitos filhos da terra, bem como a dos que nos perguntam a razão de tantos nomes de oficiais militares que denominam nossas vias públicas e o motivo dessas homenagens, vamos tentar justificá-las da forma que pudemos apurar.
Antes de adentrar aos detalhes, lembro-me de que certa vez, quando nos visitava um ilustre cidadão do I.B.C., o qual perguntou- me: “Sr. Moacir, Ituverava foi praça de guerra?” Quis saber porquê. Ele me respondeu: “As ruas da cidade são todas denominadas com nomes de general, coronel, tenente-coronel, major, capitão etc.” Historicamente, sabemos que pela Lei de 18 de agosto de 1831 foi criada a Guarda Nacional. Reorganizadas as tropas nacionais e enquadrados os excelentes vultos da nova Guarda Nacional, estes mantiveram a disciplina, a Ordem e a Lei no Brasil, auxiliados pelas forças policiais militares que os presidentes das províncias foram autorizados a organizar.
A sua infantaria combateu nas guerras internas, ao lado das tropas permanentes, destacando-se a atuação dos batalhões de Voluntários da Pátria, que notabilizaram por sua atuação na Guerra do Paraguai (1864-70). A Guarda Nacional foi dissolvida com a República (1889). E a última vez que se apresentou em público foi em 1911, no Rio de Janeiro, na Parada do Dia da Independência pelo então presidente da república Marechal Hermes da Fonseca.
Como não podia deixar de ser, e aconteceu em quase todo território nacional, Ituverava também teve os componentes da Guarda Nacional. A esse respeito, o ilustre professor Manoel Lázaro Pereira escreveu na “Trib. de Ituv.” de 04 de março de 1978. O professor Dr. Antônio Barbosa Lima, também em sua série “Ruas da Cidade”, publicada na Tribuna de 1966, fez um importante histórico daqueles que denominam nossas ruas. Os nossos “coronéis” tiveram ramificações da Franca do Imperador, onde esteve em relevo o Cel. Antônio Barbosa Lima, comandante-superior da Guarda Nacional de Franca, que procurou apaziguar uma situação crítica nos anos de 1871 em nosso Carmo da Franca.
Em 1917, era presidente da Junta de Alistamento Militar nesta cidade, o Cel. Irlandino Barbosa Sandoval. O Cel. Conceição Francisco Barbosa, comandante da Sexta Brigada de Infantaria da Guarda Nacional da comarca, em data de 18 de julho de 1917, publicou no Jornal “Cidade de Ituverava” a Ordem do Dia n° 1, que é a seguinte: “O Cel. Conceição Francisco Barbosa, comandante da Sexta Brigada de Infantaria da Guarda Nacional desta comarca de Ituverava, Estado de São Paulo, na forma da Lei etc. (Ordem do Dia n° 1 de 18 de julho de 1917). Em conformidade com o artigo 4° do Dec. n° 722 de 1850, faço público que em ordem do dia de hoje deste comando foram nomeados membros do Conselho de Qualificação de Guardas Nacionais desta comarca os seguintes oficiais desta Brigada: presidente tenente-coronel Joaquim Benedicto do Amaral; membros: Capitães Jeronymo Augusto, Baldijão, Tibúrcio Simpliciano Barbosa e Antônio Justino Falleiros, os quais conjuntamente com o primeiro Juiz de Paz desse distrito, deverão proceder a referida qualificação conforme preceituam os Docs. Em vigor n°s 1.130, de 1853, e 722, de 1850 e avisos respectivos.
Comando da Sexta Brigada de Infantaria da Guarda Nacional de Ituverava, em 18 de julho de 1917. O Cel. Comandante Conceição Francisco Barbosa”.
O tenente-coronel Joaquim Benedicto do Amaral, em 10 de agosto de 1917, publicou também na “Cidade”, o edital abaixo descrito:
“O tenente-coronel Joaquim Benedicto do Amaral, presidente do Conselho de Qualificação das Guardas Nacionais desta comarca na forma da Lei etc. Faz saber a todos que o Conselho de Qualificação das Guardas Nacionais dessa comarca, reunir-se-á no dia 20 do corrente, às 9h, na sala da Câmara Municipal para iniciar-se os trabalhos e, portanto, convida a todos os membros do mesmo Conselho: Primo Augusto Barbosa, Jeronymo Augusto, Antônio Baldijão, Antônio Justino Falleiros e Tibúrcio Simpliciano Barbosa, como autoridade de Paz em exercício para naquele dia, lugar e hora designados comparecem para o aludido fim, e bem assim convoca todos os interessados na qualificação para que aleguem seus direitos na forma prescrita da Lei.
Faz ciente que a primeira reunião do Conselho de Qualificação funcionará pelo espaço de 15 dias, diariamente, das 9h às 14h, e das 16h às 21h, se o exercício exigir. Dado e passado nesta cidade de Ituverava em 10 de agosto de 1917. Joaquim Benedicto do Amaral”.
Esse serviço de qualificação se processou justamente no ano da I Guerra Mundial, formando-se a Guarda dos Defensores da Pátria em nossa cidade. Dito isso e como é sabido, Ituverava não chegou a ser “praça de guerra”, face à denominação de nossas vias públicas. Foi de fato tumultuada, havendo disputa de grupos, crimes etc., conforme nos conta o professor José Geraldo Evangelista em “Crônica de Ituverava” à folha 59.
Proclamada a República, as patentes da Guarda Nacional eram conseguidas politicamente ou compradas. Das pesquisas que fizemos, só tivemos em mãos uma patente: a do Cap. Florindo José da Silva, o qual serviu a pátria por duas vezes. Sua patente era de Capitão das Ordens da 49ª Brigada de Infantaria e foi concedida pelo presidente da República Campos Sales, por decreto de 18 de agosto de 1900. Em nossa cidade, o empolgante Cap. Florindo foi proprietário, jornalista, poeta e orador fluente, respeitável chefe de numerosa família, méritos esses suficientes para denominar uma rua da cidade.
Os nossos homens da Guarda Nacional que receberam patentes ocuparam cargos públicos, tais como: intendentes, prefeitos, vereadores, políticos influentes etc. Segue a relação dos que denominam as ruas da cidade e respectivos cargos e patentes:
Intendentes: Cap. Joaquim Ribeiro dos Santos – Primeiro intendente do Carmo da Franca (1890); Cel. Augusto Simpliciano Barbosa – Intendente do Carmo da Franca (1891); Maj. Antônio Ribeiro dos Santos – Intendente do Carmo da Franca (1899); Cap. João José de Paula – Intendente do Carmo da Franca (1901); Cel. Cipriano Gonçalves de Almeida – Intendente do Carmo da Franca (1902); Cel. José Nunes da Silva – Intendente do Carmo da Franca (1902); Cel. Joaquim Antônio Ribeiro – Intendente do Carmo da Franca (1903); Cel. José Barbosa Nunes (1905 a 1908), quando terminou o período das intendências, passando à denominação de prefeito, devido à elevação de Ituverava a município.
Prefeitos de Ituverava: Cel. José Barbosa Nunes – 1̣° prefeito (1908); Cap. Joaquim Cerqueira César – 1912; Cap. Primo Augusto Barbosa – 1914; Cel. Irlandino Barbosa Sandoval – 1915; Cap. Joaquim Ribeiro da Rocha – 1924; Maj. Victor Venerando da Fonseca – 1926; Cap. Francisco Cândido de Assis Falleiros – 1928; Maj. Domingos Ribeiro dos Santos – Governador civil no período da Revolução de 1930.
Vereadores: Cel. Conceição Francisco Barbosa; Maj. Cristino Ribeiro dos Santos; Cap. Hilário Alves de Freitas; Maj. Joaquim Pedro Pereira; Cel. Augusto Simpliciano Barbosa; Cap. Primo Miguel Barbosa; Cel. José Bernardino Ferreira.
Ocuparam cargos públicos e foram políticos de destaque os seguintes: Cap. João Evangelista de Lima, oficial do Cartório do 1° Ofício; Cap. Euclides Lima, advogado da Prefeitura; Cap. Jerônimo Augusto Barbosa, agricultor; Cap. Antônio Justino Falleiros, agricultor e um dos proprietários da primeira usina elétrica instalada em nossa cidade; Cel. Dionísio Barbosa Sandoval, coletor estadual.
O Cap. Antônio Baldijão foi componente do Conselho da Guarda Nacional desta cidade, foi comerciante e elemento da elite na sociedade ituveravense. Não há rua com seu nome, entretanto, prestamos-lhes esta homenagem. Eis aí a razão pela qual as nossas ruas receberam denominações de homens de possuidores de patentes militares.
Texto: Moacir França.