Praça X de Março

Dada a exiguidade de praças na cidade, não quisemos dar a esta seção o nome de “Ruas e Praças da Cidade”, por exemplo. Logradouro também foi posto de lado: a palavra sempre nos pareceu um tanto marota; pois significa, entre outras coisas: “pastagem pública para o gado”. Feriria suscetibilidades, principalmente agora que o “castanho” se fez tão amigo da rapaziada da velha Academia, que nos visitou recentemente. Seja como for, trataremos hoje de nossa praça principal – a 10 de Março. Sosseguem os leitores: não a chamaremos de “cartão de visitas, etc.”, chamavam horrível, mas tão do agrado dos postuladores de votos de nosso esclarecido eleitorado que agem nas épocas apropriadas ali mesmo na Praça, que é o centro cívico da cidade, além de ser o social. Tampouco vamos dizer-lhes que é um parque magnifico, que além de árvores, possuiu lagos artificiais e canteiros que ostentam a mais profusa variedade de flores, dispostas e tratadas com verdadeiro gosto. Isto todos dizem de todos os jardins. Além do mais, não seria totalmente exato no que diz respeito à nossa praça. Todavia, é a mais linda praça do mundo, retangular, enorme, planta, aprazível, amorável, ituveravense, a nossa Praça! Nem sempre se chamou assim. Um frei Raimundo, provavelmente dominicano, pregou, no começo do século uma missão, sugeriu a erecção de uma Igreja no “cerrado do alto”, fazendo fincar o cruzeiro que, por mais de 50 anos ali esteve, tendo servido de orientação para o eixo da Avenida Principal, que parte do jardim e vai à Estação da Mogiana. Pois bem, o frei pretendeu que a praça (ou largo) se chamasse de São Domingos, denominação depois substituída para Dr. Jorge Tibiriçá, Presidente do Estado de São Paulo, o mesmo que promoveu o Convênio de Taubaté, em 1906, quando o café se achava em um de suas crises. Mas o nome do varão de Piratinga também não durou, tal como o do santo espanhol medieval. É um velho veso dos ituveravenses: valerem-se da prata da casa, substituindo nomes nacionais por personalidades locais, o que talvez seja bom. Quem saberia indicar, hoje, as ruas Alfredo Pujol, Altino Arantes e outras? O nome que prevaleceu foi o 10 de Março. (criação do município – 10-3-1885) de resto sonoro e belo. A nova denominação – e definitiva – espera-se, deve datar ai do ano de 1912. A Praça não foi, porém, sempre tão espaçosa.

Estendia-se da atual prefeitura e Padaria Aparecida até às ruas cap. Primo Augusto Barbosa e Cons. Antônio Prado. O cap. Joaquim de Cerqueira Cesar, quando prefeito, desapropriou os terrenos e casas situadas em frente aos prédios das famílias Joaquim Ribeiro da Rocha e Abdala para dar ao largo o aspecto majestoso de hoje. Os antepassados dos Abdala tinham, informa a tradição, uma espécie de galpão e cavalariças onde está o ponto de automóveis. Ampliada, a Praça, o cap. César empreendeu a feitura das sarjetas e calçada exterior (até hoje há lajes com a inscrição: “Câmara Municipal – 1910”. Do trabalho se encarregou a firma Giacomo di Giacomi, que recebeu 15 contos e 600 mil réis, para grande desespero dos camaristas, que entendiam desnecessária a obra, cujo custo “viria agravar a situação precária do Erário”.

Durante anos, o interior da praça não passou de um vasto retângulo de terra vermelha, sem qualquer pavimentação, escassamente iluminado. Coube ao pref. cel. Irlandino Barbosa Sandoval ajardiná-la e dotá-la de moderna iluminação. Prefeitos posteriores – Balduino Nunes, João Athayde de Souza, Salvador Cordaro Cruz e Hélvio Nunes introduziram melhoramentos vários. Em 1992, por ocasião do 1° Centenário da Independência de nosso país erigiu-se o obelisco que se acha ainda, no centro do jardim.

A praça teve dois cinemas, antes do atual e belo Regina. O mais antigo situou-se no local da casa do gerente do Banco Comercial. Este mesmo cinema foi, depois, adaptado para Matriz provisória pelo padre Vito Fabiani, que construiu elegante palacete para sua residência nas proximidades (hoje pertence á família José Sandoval). O outro cinema foi precisamente no local em que está o Regina. Mais tarde, ali teve casa comercial, durante muitos anos, Pascoal Amêndola. Os homens abastados e de gosto elegeram a praça para residirem. O cel. Irlandino ergueu o imponente palacete da esquina da avenida; antes das reformas a que o submeteram os sucessivos proprietários era a mais bela das casas da cidade. O cap. Primo Augusto Barbosa construiu a casa que hoje é do cap. José T. Borges. O major Cristino Ribeiro dos Santos tinha sua mansão onde hoje está o prédio. A. Sandoval Seu filho, o cap. Joaquim Cristino, que edificou muitas casas, se estabeleceu onde ainda hoje se acha sua família. O baldio existente num dos cantos da praça foi o prédio da antiga A. A Ituveravense, fundada ainda nos tempos de Irineu Forjaz.

O prédio em que se acha, no momento, a Prefeitura, foi de Miguel Vilar, farmacêutico formado, que passou ali a maior parte de sua vida, aviando receitas na sua “Farmácia Vilar”, que depois foi de Arlindo de Matos. O casarão ocupado em parte pela casa Silva, pertenceu ao já citado Irlandino, que construiu também outras casas vizinhas, inclusive aquela que foi do Dr. Sores de Oliveira, que ali residiu durante uns quarenta anos. A Padaria Aparecida, que foi de Jerônimo Rego, dos Irmãos Bernardes e de Aurélio Fráguas Vidal, ´´e dos mais antigos estabelecimentos do gênero em Ituverava, foi reconstruído mais de uma vez, permanecendo, porém no mesmo privilegiado local. Onde se acha hoje o Açougue Dinamérico (reparem na interessante fachada do prédio) viveu o Juiz Manuel Carlos F. Ferraz, depois desembargador. Ali em frente cometeu-se um dos crimes de maior repercussão no seu tempo: o assassínio do benquisto cidadão – José Luiz da Silva (Zeca Luiz), fuzilado por matador profissional quando fazia o seu passeio diário de manhã muito cedo, pelo “quadrado”. O sobradão foi sede do Colégio Montenegro, do Ginásio Estadual. O primeiro andar é feito de pedra. Também ali residiu o Juiz Juarez Bezerra e o Juiz Antônio Egidio de Carvalho. A casa da esquina pertenceu ao Cap. Antônio Alves Pereira Machado. Mas tarde foi a Farmácia Faleiros, (do Dr. Francisco Faleiros) e depois do Sr. Messias Alves Ferreira, sucedido por Airton Ferriera, e ultimamente por Arlindo Matos de Oliveira e Waldomiro Mariano. Na casa da esquina (Nosso Pão e outros estabelecimentos) morou o Tabelião – Cap. João Evangelista de Lima. O velho escrivão para ganhar o meio do jardim atravessava um canteiro. Chegou a fazer um trilho. O Prefeito Cícero Barbosa Lima achou de melhor alvitre secionar o canteiro, fazendo um passeio da largura dos demais. Ninguém quereria molestar o importante Cap. João de Lima. Eis aí um pouco de nossa praça: o lugar favorito da cidade. Ela é grande, mas o espaço para falar dela, não. (Moacyr França, Tribuna de Ituverava, 23/08/1967).

Entre as várias mudanças e revitalizações, a praça de Ituverava continua sendo uma das mais bonitas do Brasil.

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