São famosos os carnavais de Ituverava.
Mesmo agora, que a festa de Momo se circunscreve aos salões, o tríduo é festejado entre nós com a mais alucinante animação. Antigamente, entretanto, quando imperava o chamado carnaval de rua, os festejos atingiam proporções formidáveis e a cidade toda, de ponta a ponta, era invadida por préstitos carnavalescos, enquanto as multidões se divertiam a vales. O povo enchia literalmente a Praça 10 de Março que transbordava, e a Avenida General Glicério, durante o dia e à noite, estava sempre repleto de carros com as capotas descidas que faziam o “corso”. E o povo vibrava dentro de uma alegria invulgar que o fazia esquecer completamente o terra-a-terra cotidiano, numa fuga esplêndida das preocupações e mazelas.
Relembremos alguns dos blocos que marcaram época em Ituverava, em diversos tríduos, e a cuja simples enunciação dos nomes provocará, estamos certos, gloriosas recordações no coração de muita gente.
O “Marinha”, era um cordão composto de grande número de foliões de ambos os sexos, que exibiam artísticas fantasias de “marinheiro”, tendo à frente um “oficial” feminino que deixava a turma tonta. Quando o “Marinha” desfilava pelas ruas de Ituverava era um Deus nos acuda, e não havia quem não ficasse completamente “abafado”, porque o pessoal era mesmo da folia.
Mais tarde, fez sucesso o “Bloco Antártica”, cujo organizador era o Moacir França. Dizia a crônica da época: ‘Treinador do Bloco Antártica: Moacir França. Mais alto e mais louro que Caruso, ele canta mais baixo e menos claro. Não dança. Promessa… ao médico. Mas faz dançar e cantar sob compasso, usando de uma batuta hipotética”.
Em 1936, organizou-se aqui um bloco a que se denominou “Bachareis do Amor”, do qual o José Alípio era um dos chefes. Os “doutores” eram donos de frenético entusiasmo.
O “Chin-bloco”, aparecido no mesmo ano, foi apelidado de selete e “chic”. Numa de suas crônicas carnavalescas de 1936, a “Cidade” diz: “Quarenta e quatro carnavais passados contemplam o seu balisa alegre e sorridente – o Aquiles. Metido, agora, num cavanhaque mefistofélico, está parecendo o legendário capeta, por fora. Por dentro… há muito que ele é…”
Um outro conjunto carnavalesco que gozava de muita simpatia e que foi, durante muitos anos, composto só de rapazes: o ‘Arrelia”. Mais tarde, porém, admitiu moças em seu meio, formando então um “pelotão” dos diabos.
Muitos outros cordões e blocos tiveram os seus momentos de verdadeira glória momística. Numerá-los ao todo é impossível. Todavia, lembramo-nos de alguns: “Abacaxi”, “Pão Duro”, “Tirolezas”, “Avenida”, “Camponeses”, “Bolhas de Sabão”, ‘As Garotas”, “Colegial”, “Os Cozinheiros”, e o famoso “Dominó” que sarabandeava sob a chefia do Múcio Barbosa. Nestes últimos anos o povo tem se divertido mais coletivamente, sem se dividir em blocos. Entretanto, surgiram blocos que fizeram enorme sucesso, tais como o “Piratas” e “Mercadores”, ambos organizados por Jorge Nunes.
A gente de cor de Ituverava organizou também o seu cordão já há bastante anos, e que a princípio se denominava ‘Amor e Mocidade”, passando depois a chamar-se “Bambas”. Os “Bambas” são uma verdadeira organização. Meses antes do tríduo eles já dão aos preparos para a folia. Por isso seus cordões fazem tanto furor, no saracoteio do samba, ganhando diversos concursos carnavalescos.
*Revista Comarca de Ituverava, edição de 1948.