Ituverava em Reminiscência #84

A construção da nova Matriz

Parte 2

Como ficou dito, a Igreja provisória ficou instalada na Praça Jorge Tibiriçá – 10 de Março. Os trabalhos pró-nova construção não pararam, mas o tempo passava e a atual Casa de Deus já se tornava pequena dado o número de fiéis como também pelo crescente desenvolvimento pelo qual passava a cidade. Necessário se fazia o novo templo.

O Cônego Vito Fabiani, sempre disposto a tudo fazer, não só em benefício da Igreja como também pelo engrandecimento da cidade, realizava anualmente as festividades não só da padroeira como do mês Mariano. O resultado dos leilões, donativos em dinheiro e em espécie eram em parte empregados nas obras da Matriz provisória, que requeria acabamento, tanto assim que “Cidade” n° 114 de 06 de agosto de 1916 publicou o seguinte:

“Secção livre – Mês Mariano – “Assim o Sr. Abelardo Xavier não foi possível arrecadar o resto que ficou para receber dos leilões da festa do Mês de Maria. Pois, todas aquelas pessoas que não pagarem até domingo próximo, serei forçado a publicar os nomes dos que não fizeram entrada da importância das prendas por eles arrematadas”. – Essa importância será revertida em benefício das obras da Matriz provisória e por isso acho que ninguém aproveitará desse dinheiro sagrado. Ituverava 06 de agosto de 1916 – O Vigário: Cônego Vito Fabiani”.

Sabia-se que logo após a publicidade da Secção Livre, os retardatários procuravam saldar seus débitos. O Cônego, satisfeito, no púlpito agradecia a todos deixando claro que ainda havia o importante trabalho da construção da nova igreja. A sua passagem por Ituverava ficou em relevo, não só na parte religiosa como também social, pois construiu prédios residenciais e o saudoso Cineteatro “Santa Cecília”. Como sua última dádiva, foi a imagem de Nossa Senhora do Carmo, que orna o nosso tempo, a qual veio a seu pedido de Nápoles/ Itália. – “Cidade” de 06 de agosto de 1916.

Não esmorecendo, o incansável Cônego Vito, em seus últimos dias em Ituverava, fez nova petição à Câmara de Vereadores pleiteando auxílio de 50 contos de réis para início das obras da Nova Matriz. Pedido este que foi negado novamente em longo parecer das Comissões de Finanças e Justiça, alegando inconstitucionalidade, falta de recursos financeiros e que havia na época outras obras de necessidades mais prementes para desenvolvimento do município. (Ata da Câmara de Ituverava; reunião de 07 de maio de 1920).

Em outubro de 1920, assumiu a Direção da paróquia o Pe. José Rodrigues Coimbra, em virtude de ter o dinâmico Cônego Vito Fabiani se retirado para a Itália, sua terra natal. Pe. Coimbra deu prosseguimento ao interesse da população, como também da Igreja, o de iniciar a construção do novo templo. A fim de dar continuidade ao trabalho, foram sorteados para o ano de 1920 os festeiros seguintes: Maximino de Paula e Souza e Antônio Bento Peixoto; D. Maria Teixeira, esposa do Sr. Fulgêncio Ferreira de Paula e D. Maria Nunes, esposa do Sr. Balduino Ferreira da Silva. Para preparar o andor, D. Carolina Ferreira da Silva, esposa do Sr. José Bernardino Ferreira; para enfeitar a igreja D. Maria Cândida, esposa do Sr. Cel. Dionísio Barbosa Sandoval; e para procuradores os Srs. José do Nascimento e Antônio Fernandes.

Pelas pesquisas feitas, verificou-se que a 24 de julho de 1915, quando o bispo diocesano D. Alberto José de Gonçalves visitava a comarca, procedeu a bênção da primeira pedra do templo a erigir na Praça Dr. Jorge Tibiriçá. Como os trabalhos do início da construção foram se dilatando, a opinião pública, a Comissão encarregada e o vigário de então transferiram o plano da construção para outro local.

Foi no Largo Novo, onde se jogavam futebol e armavam- -se circos de touros e cavalinhos, local escolhido. Mais tarde passou a denominar-se Praça Rui Barbosa e hoje Praça Deputado Hélvio Nunes da Silva. Ali, os queridos astros do riso Piolin, Arrelia, Chincharrão e tantos outros tiveram seus circos armados. Teve o beneplácito do Sr. Bispo D. Alberto a nova fiscalização. O festeiro Dr. João Franco Godoy publicou na “Cidade” n° 344 de 1921 a prestação de contas referentes a festa de Nossa Senhora do Carmo:

RECEITA – “Arrecadado pelo festeiro João Franco Godoy 382$000; Cap. João de Paula 230$000; Cap. Justino Barbosa 242$000; Alfredo M. Auzi 132$000; Antonino Campanella 60$000; Recebido do leilão 170$000; João Franco Godoy pelo que arrematou no leilão 112$500; produto do baile 121$000; TOTAL = 1:449$500. Despesas = Pago ao Exmo. Vigário 850$000; ao maestro da música 500$000; a Jerônymo Rego 10$600; ao procurador do leilão 10$500; SALDO = 78$400 – TOTAL = 1.449$500. O festeiro: João F. Godoy”.

Eis aí mais uma demonstração do trabalho dos festeiros em prol da Igreja. A renda apurada era entregue ao vigário, o qual destinava parte da mesma às obras da futura Matriz. As Comissões e Festeiros para o empreendedorismo sucederam-se periodicamente. Todos que assumiram os encargos demonstravam o maior interesse para que a construção da igreja tivesse início e fim. Participavam das mesmas os homens representantes da elite ituveravense, na época dos donos do poder, os donos das finanças, os condutores das colônias italiana e síria, aqueles que realmente poderiam mobilizar a cidade e levá-la a construir a nova Matriz, estimulador pela energia dos vigários.

De “Ruas da Cidade”, de autoria do conterrâneo professor e jornalista Dr. Antônio Barbosa Lima, publicado na “Tribuna de Ituverava” n° 909 de 1967 na crônica referente à Praça Rui Barbosa, destacamos parte em que se refere a localização da nova Matriz.

“… Em 1922 ou pouco depois, o futebol mudou-se de lugar. O Largo seria ocupado pela Igreja Matriz, que por pouco não ficou na Praça X de Março, pois assim queria o Cel. Irlandino. A localização da Matriz deu azo a muitas discussões. O Francisco Galdeano, chefe de enorme família do mesmo nome, queria com a frente para a sua casa (o atual n° 100 da Praça). Já o Cel. Irlandino queria com a frente para a banda onde, entre outras boas casas, se achava o palacete do Dr. José Ferreira de Assis, então governador regional do Rotary Internacional. Chamado a opinar, o Agrimensor Cícero Barbosa Lima entendeu que o melhor seria erguer a Matriz com a frente para a Rua Oito (agora R. Cel. José Nunes da Silva).

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