Dr. José Ângelo Sicca é da sétima turma da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto
A cidade de Ituverava é privilegiada na área de Saúde. O município conta atualmente com excelentes profissionais nas mais diversas áreas da Medicina. Isso tudo passa pela qualidade dos hospitais, estrutura e também por aqueles que acreditaram no potencial e apostaram suas carreiras na cidade.
Tiveram oportunidade de ir para outros lugares, mas escolheram ficar aqui. São testemunhas oculares de várias etapas desta história que fizeram Ituverava galgar ao posto de referência regional. Existem, portanto, pessoas que fizeram acontecer, cumpriram e cumprem os seus juramentos e propósitos.
Uma destas referências sem dúvidas se trata de um excelente profissional, um ótimo esposo, pai, avô e bisavô, tio e irmão, grande homem e também amigo de inúmeras pessoas. Figura de estrema relevância na vida de muitos ituveravenses.
Dr. José Ângelo Sicca é da sétima turma da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto que está completando 60 anos da formatura.
Além da efeméride de anos de diploma, Dr. Sicca completa o mesmo tempo de atividades e continua na ativa. Para falar sobre a marca importante de anos de trabalho, ele recebeu a reportagem do Jornal O Progresso na Clínica da Mulher, onde atende na área de Ginecologia.
Membro do Corpo Clínico da Santa Casa de Misericórdia, o profissional atua na Unidade Básica do Programa Saúde da Família do bairro Benedito Trajano Borges. Há 10 anos ele não faz mais partos, porém, tem em sua conta mais de sete mil nascimentos por suas mãos santas.
Na oportunidade, fala sobre o início da carreira, quando chegou em Ituverava para trabalhar. Natural de Guará, antes ele já havia estudado nos antigos Grupo Escolar e Ginasial na cidade. O médico destaca também a motivação que encontra para prosseguir trabalhando, atendendo e ajudando a população.
“Atendendo pessoas carentes no PSF, onde você lida com todo tipo de angústia, você faz um boom de Medicina Social. E às vezes você precisa conversar com paciente, orientar e quando ele ou ela melhora, isso é muito gratificante”, declara.
Ituveravense de coração e por serviço prestado, Dr. Sicca é casado com Maria Neusa Assed Sicca, tem os filhos Dr. José Ângelo Sicca Filho (Advogado), Raquel Amália Sicca Izidora (Enfermeira) e Dr. José Adriano Sicca (médico em Jaboticabal).
Ele também tem as netas Maria Carolina, Amanda, Clara, Júlia e Ana Alice e os bisnetos Ana Luiza, Enzo, Guilherme e Maria.
Para comemorar a data, os formandos de 1963 de Medicina da USP realizaram um encontro em Ribeirão Preto. A cada cinco anos, esses colegas de faculdade se reúnem. Vale lembrar que em 2013, Dr. Sicca foi homenageado pelo CREMESP pelos 50 anos de atuação profissional sem qualquer infração ética em todos estes anos.
Progresso: Porque o Senhor decidiu ser médico?
Dr. José Ângelo Sicca: Essa é uma grande pergunta que eu faço para mim até hoje. Meu pai era um alfaiate em Guará, não tinha nenhum vínculo familiar com médico. Sou primeiro médico da família e hoje temos mais de 30 médicos. Tenho sobrinhos que nasceram na minha mão, colegas médicos que nasceram nas minhas mãos. Agora, porque eu decidi ser médico realmente eu não sei.
A minha avó era doula em Guará, muitas crianças que nasceram nas mãos dela. Eu me lembro das luvas dela, mas não houve nada que me estimulasse. Eu comecei a estudar em Guará e não tinha o antigo Ginásio que fiz aqui em Ituverava.
Nesta época tinha o grupo de alunos que seguia para fazer o Normal para ser Professor e outro para o Científico, que seguia carreiras em Odontologia, Medicina ou Farmacêuticos. Eu e mais 13 de Guará decidimos ser médicos.
O porquê eu ainda não sei, mas foi um passo muito grande que deixou meu pai muito envaidecido, pois ele era um homem muito sério.
Progresso: Onde senhor formou-se, realizou residência e trabalhou no início?
Dr. Sicca: Eu sou da sétima turma da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, nós formamos em 1963. Fiz residência na mesma Faculdade e morei por três anos dentro do Hospital São Francisco, onde era médico interno e junto com outro colega éramos responsáveis por todas urgências e emergências que chegavam no Hospital São Francisco que era vizinho do Hospital das Clínicas.
Depois de trabalhar no Pronto Socorro em Ribeirão vim direto para a Santa Casa de Ituverava. Também atendo na Clínica da Mulher. Fui o primeiro médico de Jeriquara, trabalhei em Buritizal por muitos anos e, depois que me aposentei, estou no PSF do Bairro Benedito Trajano Borges e continuo atendendo na área de Ginecologia na Clínica da Mulher. Há dez anos deixei de fazer parto e tenho em torno de sete mil partos na região.
Progresso: Por que o senhor escolheu Ituverava para trabalhar?
Dr. Sicca: Eu não pensava em vir para Ituverava, achava que iria para outras regiões, mas um dia estava em Guará passeando e encontrei o Dr. Archibaldo Moreira Coimbra e ele me convidou. Pediu para ajudar e brincou que ele e o Dr. Ecyr Alves Ferreira queriam tirar férias, pediu para ficar pelo menos um mês no lugar deles e decidi ficar.
Fiquei em janeiro, fiz os meus primeiros partos que eu me lembro até hoje, primeiro foi uma menina de Ituverava e o segundo um menino de Guará. Em seguida voltei para Ribeirão e em julho daquele mesmo ano eles (Archibaldo e Ecyr) voltaram a me chamar e estou até hoje e foi assim.
Progresso: Que avaliação o senhor faz desta decisão de seguir carreira profissional em Ituverava?
Dr. Sicca: Ituverava é uma cidade que me adotou porque fiz somente o Grupo Escolar em Guará (que corresponde ao ensino Fundamental 1 nos dias atuais). O Ginásio (Fundamental 2) e Colegial (Ensino Médio) também fiz em Ituverava.
Aqui tenho um vasto ciclo de amizade. Hoje, por exemplo tem menos gente que me conhece em Guará do que em Ituverava.
Aqui eu já tinha um vínculo de amizades, quando vim me lembro do João Athayde de Souza e Ezio Athayde tinha um grupo de professores que eram todos meus amigos, então eu me sentia em casa.
Aqui criei meus filhos, tenho minha família toda, participei de praticamente todas atividades de Ituverava desde o futebol, diretor da Associação Atlética Ituveravense, fui de clubes de serviço Lions e Rotary, na Santa Casa fui o primeiro diretor clínico, ingressei na Maçonaria, fui vereador e, então são praticamente todas as atividades de Ituverava.
Progresso: O que representa para o senhor completar 60 anos de medicina?
Dr. Sicca: Um misto de satisfação e de surpresa porque a gente não esperava chegar nesta idade fazendo medicina. Temos nosso grupo que formamos em 80 e, 40 já se foram. 10 estão incapacitados e de nosso grupo eram cinco mulheres e hoje apenas duas em boas condições sendo apenas uma participou do nosso encontro porque a outra está nos Estados Unidos e não pôde vir.
Progresso: O que motiva o senhor a continuar atendendo e ajudando as pessoas através da profissão?
Dr. Sicca: Primeiro que hoje faço a ginecologia que não me exige estar à disposição a qualquer hora. Segundo o que faço hoje é a verdadeira realidade da medicina no Brasil. Atendendo pessoas mais carentes e no PSF você lida com todo tipo de angústia, você faz um boom de Medicina Social. Às vezes você precisa conversar com paciente, orientar e quando ele ou ela melhora é muito gratificante.
Quando fizemos o curso de Medicina a gente tinha Medicina Legal todos os anos e tinha um professor desta área que dizia “meus filhos, a Medicina é um sacerdócio” e assim que tem que ser.
Progresso: O senhor que participou de muitas etapas da Santa Casa de Misericórdia, como senhor vê a evolução da Medicina e do segmento da saúde como um todo em Ituverava fazendo a cidade despontar na região?
Dr. Sicca: Eu sou o primeiro médico com Residência em Ituverava. Vim para cá não se fazia anestesia intubada. Não se fazia RAC e eu fiz 15 anos de anestesia. Depois vieram outros colegas, tivemos outros anestesistas na equipe. Fiz anestesia também em outras cidades como Igarapava e São Joaquim da Barra, onde me chamavam. Papanicolau e outros exames de prevenção de câncer de colo de útero na época Dr. Archibaldo apoiou a compra o colonoscópio.
A Medicina que se faz em Ituverava hoje com os profissionais que se tem aqui não fica devendo em nada para fora e até grandes cidades. Temos uma Santa Casa – e eu disse isso no encontro da nossa turma de formandos – não devemos nada para ninguém em equipamento e em qualidade profissional, corpo clínico, enfermagem e administração séria: nós pagamos em dia e por isso pagamos com desconto.
Nós já “quebramos” e devemos muito ao Takayuki Maeda que montou toda estrutura da Santa Casa e depois o Mário Matsubara, Dr. Antônio Pio e o Luiz Carlos Rodrigues “Busa” que continuaram levando o barco para frente sempre com o Bruno Baldo que hoje é o nosso presidente e sua diretoria que vai muito bem também.
Tem que gostar da Santa Casa. Primeira coisa para o médico é gostar de onde trabalha. Nossa Medicina e aparelhagem é de primeira, alguns aparelhos ainda não temos porque é antieconômico e não se tem demanda, mas temos uma Ressonância Magnética e Tomografia de primeiro mundo, Hemodiálise com máquinas sempre novas e renovadas, Centro Cirúrgico equipado, Oncologia, UTI Humanizada, Mamógrafo de última geração, profissionais que operam com Laparoscopia, equipe de enfermagem muito bem conduzida e com responsabilidade.
Na área Ginecologia e Obstetrícia eu consegui que fizesse uma ala exclusiva porque paciente grávida não pode ficar com outros pacientes pelo risco de infecção e na obstetrícia os cuidados são redobrados, porque se trabalha cuidando de dois: mãe e filho.
E assim foram as outras áreas foram tendo suas conquistas, Pediatria, Ortopedia, Radiologia, e as demais fazendo da Santa Casa este hospital regional, referência na medicina e que eu tenho certeza porque converso com muita gente em todos os lugares que é orgulho dos ituveravenses.