Thaís Silva Marinheiro de Paula é docente no Colégio Connext e na ETEC Professor José Ignácio
A professora Thaís Silva Marinheiro de Paula, de 33 anos, concluiu esta semana o Doutorado em Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP).
Formada em Letras (Português/Inglês) e Pedagogia pela FFCL (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letas de Ituverava), é docente do Colégio Connext da Fundação Educacional de Ituverava e da ETEC (Escola Técnica) Professor José Ignácio Azevedo Filho.
Filha de João Batista Marinheiro e Rosania Maria da Silva Marinheiro, Thaís é casada com César Ribeiro de Paula e tem o filho Henrique Marinheiro de Paula.
A profissional possui ainda pós-graduações e mestrados pelas instituições: Especialização em Leitura e Produção de Textos –Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava (FFCL); Especialização em Educação a Distância –Universidade Paulista (UNIP); Mestrado em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) e, Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP).
Na ETEC, ministra as disciplinas: Língua Portuguesa, Literatura e Redação para o Ensino Médio, Linguagem, Trabalho e Tecnologia para o curso técnico e, no Connext leciona Gramática para o Ensino Médio. Confira entrevista concedida pela Doutora Thaís ao Jornal O Progresso:
Progresso: Quando concluiu doutorado? Qual instituição/campus? Qual área?
Thaís Silva Marinheiro de Paula: Conclui o doutorado em Educação no dia 29 de agosto de 2023 no Programa de Pós-Graduação em Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP).
Progresso: Por que escolheu esta área?
Thaís: Escolhi a Educação por se tratar da área em que atuo profissionalmente. Além disso, no ambiente escolar, eu poderia dar continuidade à minha pesquisa do Mestrado que tratava sobre corpo, mas, desta vez, relacionando corpo e bullying.
Progresso: Qual tema de sua tese? Por que escolheu este tema? Quando e onde ocorreu a apresentação?
Thaís: O tema da tese foi o bullying escolar. Junto à minha orientadora, propusemos analisar os discursos de alunos do Ensino Médio que foram vítimas de bullying durante o Ensino Fundamental, a ideia era analisar quais marcas essa violência deixou nos corpos dos alunos.
Escolhi esse tema por vários motivos: 1) ser um assunto que me afeta diretamente; 2) estar na escola, saber da realidade dessa problemática e ouvir o quanto isso afeta os alunos; 3) ler sobre casos de violência em escolas, noticiados pela mídia, motivados pelo bullying.
A apresentação ocorreu dia 29/08/2023 no formato online com autorização do Programa de Pós-Graduação da FFCLRP/USP. Optamos por realizar a banca no formato online, pois consideramos o deslocamento dos membros da banca e a possibilidade de mais pessoas (familiares e amigos) poderem assistir.
Progresso: Quem foi seu orientador? Quais docentes participaram da banca?
Thaís: Fui orientada pela Profª Drª Soraya Maria Romano Pacífico da FFCLRP/USP. A banca foi constituída pelos membros: Prof. Dr. Anderson de Carvalho Pereira (UESB), Profª Drª Fabiana Cláudia Viana Costa Dias (Unicamp) e Profª Drª Lucília Maria Abrahão e Sousa (FFCLRP/USP).
Progresso: Qual período do Doutorado? O que representa para a senhora esta conquista?
Thaís: O doutorado tem duração de 48 meses (4 anos).
Essa conquista representa a materialização de um sonho. No Ensino Médio, eu desejava cursar uma universidade pública, porém não fui aprovada. Decidi cursar Letras na FFCL de Ituverava. E a minha oportunidade estava ali, pois a professora Fabiana Cláudia Viana Costa Dias, em 2009, percebeu meu interesse pela pesquisa científica e me apresentou à professora Soraya Pacífico, a partir desse dia, comecei a fazer parte do seu grupo de estudos. Foi meu primeiro passo para chegar à universidade pública.
Essa conquista também representa uma coragem, falar sobre bullying e defender que ele está na escola disfarçado de brincadeira. Em tempos tão difíceis como os que vivemos, a violência é naturalizada, misturam-se os termos brincar, apelidar, quando, na verdade, o que se está fazendo é humilhar, calar e silenciar outros alunos, tudo porque possuem suas singularidades, suas características as quais se tornam motivo de chacota. Com isso, o bullying circula e faz cada vez mais vítimas.
Digo que essa tese é uma conquista, porque muitas instituições escolares esperam o bullying chegar ao nível do comportamento físico, do ato violento para tomarem atitudes. Defendemos que enquanto o bullying está no nível do ato agressivo, do discurso, no nível do verbal, os agressores desacreditam a vítima, fazem com que ela acredite que é a culpada pela violência sofrida, como se seu corpo fosse o culpado por receber violência, a isso damos o nome de disfarce do bullying, funciona pelo cinismo.
É uma conquista porque temos embasamento científico para enfrentarmos frases como “no meu tempo não tinha isso”; “hoje não se pode mais brincar”; “sofri bullying e sobrevivi”. Bullying sempre existiu, a humilhação sempre existiu, temos como exemplo o período escravocrata e tantos outros que podem ser mencionados. O que não podemos é aceitar a violência naturalizada na escola, fazendo o outro se sentir mal para que um grupo se sinta bem. Além disso, a brincadeira pode existir sim, mas se a brincadeira faz o aluno se sentir mal, não é brincadeira, é desrespeito.
Hoje temos a ciência para nos ajudar a nomear essas ações violentas, para nos ensinar a buscar práticas que contribuam para o acolhimento tanto de vítimas quanto de agressores. Considero uma conquista por podermos contribuir para a desnaturalização de uma violência que circula na sociedade, no mercado de trabalho, nas famílias e sempre vai refletir e ecoar na escola.
Progresso: O que motivou a prosseguir nos estudos e ampliando sua qualificação profissional?
Thaís: Eu sempre quis saber mais sobre o funcionamento da linguagem, aprofundar o conhecimento na teoria da Análise do Discurso, uma das áreas da Linguística, para isso o campo da ciência era promissor, pois ali teria acesso a outros e novos trabalhos, espaço de interlocução e aprendizado.
Outro motivo que me incentivou a buscar a qualificação profissional foi, além do conhecimento, buscar também práticas modernas, que versavam sobre os conteúdos tradicionais, mas que pudessem me direcionar, me inspirar a trazer metodologias e uma didática mais instigante aos alunos.
Progresso: Por que é importante o profissional de Educação dar continuidade aos estudos e chegar à qualificação de Mestre ou Doutor
Thaís: Considero que o papel do professor é trazer o conhecimento e recebê-lo. A sala de aula é um ambiente em que isso pode acontecer: troca de conhecimento entre professor e aluno, mas para haver essa troca o professor precisa buscar ferramentas, conhecimento, metodologias, fundamentação, pois não estamos falando de alunos do século XIX, mas de alunos que trazem características de diferentes gerações e tudo isso somado à quantidade de informações que os discentes têm acesso pelas mídias digitais. Então, entendo que a formação de um professor, seja especialista, mestre ou doutor, contribui para a compreensão e para a gestão dessas diferentes gerações que estão na escola.
Progresso: O que representa para um docente ter um o Título de Doutor?
Thaís: O título representa a busca pelo conhecimento e a crença na ciência, pois para ser doutor há pesquisa, há participações em congressos, publicações com artigos científicos. O professor doutor é um contribuinte para a pesquisa científica do país, é aquele que acredita que ciência e educação juntas podem colaborar para o desenvolvimento da educação brasileira.
Progresso: Qual a relevância de ter conquistado esta formação por uma instituição renomada como a USP?
Thaís: A USP é considera, atualmente, a melhor universidade da América Latina e está entre as 100 melhores do mundo. Isso se deve à pesquisa de qualidade que ela desenvolve, então, ser titulado pela USP demonstra também o quanto o doutorando estudou para receber esse título, pois durante os quatro anos temos exigências quanto ao desenvolvimento, relevância, impacto e circulação da pesquisa. Posso dizer que a relevância desse título reflete no trabalho comprometido do estudante tendo em vista a seriedade da instituição.
Progresso: Fale sobre a estrutura da instituição que realizou o Doutorado e qualidade dos professores?
Thaís: A estrutura da USP é composta por escolas, institutos e faculdades, que são responsáveis por oferecer os cursos de graduação e pós-graduação. Além disso, a universidade conta com diversos centros e grupos de pesquisas. Quanto à qualidade dos professores da USP, a universidade conta com um corpo docente altamente qualificado e reconhecido nacional e internacionalmente. Os professores da USP atuação e contribuem significativamente para o avanço do conhecimento em suas respectivas áreas.
Faço parte do grupo de pesquisa ISADE (Inquietações sobre Autoria, Argumentação, Discurso e Ensino) coordenado pela Profª Drª Soraya Maria Romano Pacífico.
Progresso: A quem a senhora dedica esta realização?
Thaís: Dedico esta realização especialmente ao meu filho Henrique.
Dedico ao meu marido César, a meus pais, à minha família e amigos por todo incentivo, amor e apoio.
Dedico aos meus alunos, pois são meus desafios e, ao mesmo tempo, minhas motivações para estar na sala de aula.
Dedico a duas professoras muito queridas que enxergaram em mim a vontade de aprender e me inspiraram na vida pessoal, acadêmica e profissional: Professora Mestre Maria do Carmo Rodrigues Barbosa, Dona Carminha (in memorian), e Professora Maria Antonieta Dias Ribeiro dos Santos.